Pintura romântica de Joana D'Arc na Batalha de Orléans. |
Do ponto de vista histórico, podemos ver que a Guerra dos
Cem Anos foi um evento que marcou o processo de formação das monarquias
nacionais inglesa e francesa. Não por acaso, vemos que esse conflito girou em
torno dos territórios e impostos que eram tão necessários ao fortalecimento de
qualquer monarquia daquela época. Sendo assim, vemos que tal evento manifesta
significativamente a centralização política que se desenvolveu nos fins da
Idade Média.
Iniciada em 1337, a Guerra dos Cem Anos foi deflagrada quando
o trono francês esteve carente de um herdeiro direto. Aproveitando da situação,
o rei britânico Eduardo III, neto do monarca francês Felipe, O Belo (1285 –
1314), reivindicou o direito de unificar as coroas inglesa e francesa. Dessa
forma, a Inglaterra incrementaria seus domínios e colocaria um conjunto de
prósperas cidades comerciais sob o seu domínio político, principalmente da
região de Flandres.
Nessa época, os comerciantes de Flandres apoiaram a ação
britânica por terem laços comerciais francamente estabelecidos com a
Inglaterra. Por conta desse apoio, os ingleses venceram as primeiras batalhas e
conseguiram o controle de alguns territórios do Norte da França. Até aquele
instante, observando a superioridade numérica e bélica dos ingleses, era possível
apostar na queda da monarquia francesa. Contudo, a decorrência da Peste Negra
impôs uma pausa aos dois lados da guerra.
As batalhas só foram retomadas em 1356, quando a Inglaterra
conquistou novas regiões e contou com apoio de alguns nobres franceses. No ano
de 1360, a França se viu obrigada a assinar o Tratado de Brétigny. Pelo
documento, a Inglaterra oficializava o seu domínio sobre parte da França e
recuperava alguns territórios inicialmente tomados pelos franceses.
A ruína causada pela guerra provocou grandes problemas aos
camponeses franceses. A falta de recursos, os pesados tributos e as fracas
colheitas motivaram as chamadas jacqueries. Nesse instante, apesar dos
episódios de violência contra a nobreza, os exércitos da França reorganizaram
suas forças militares. Realizando a utilização de exércitos mercenários, o rei
Carlos V conseguiu reaver uma parcela dos territórios perdidos para a
Inglaterra.
Nas últimas décadas do século XIV, os conflitos tiveram uma
pausa em virtude de uma série de revoltas internas que tomaram conta da
Inglaterra. Apesar da falta de guerra, uma paz definitiva não havia sido
protocolada entre os ingleses e franceses. No ano de 1415, o rei britânico
Henrique V retomou a guerra promovendo a recuperação da porção norte da França.
Mais do que isso, através do Tratado de Troyes, ele garantiu para si o direito
de suceder a linhagem da monarquia francesa.
Em 1422, a morte de Carlos VI da França e de Henrique V da
Inglaterra fizeram com que o trono francês ficasse sob a regência da irmã de
Carlos VI, então casada com o rei Henrique V da Inglaterra. Nesse meio tempo,
os camponeses da França se mostraram extremamente insatisfeitos com a dominação
estrangeira promovida pela Inglaterra. Foi nesse contexto de mobilização
popular que a emblemática figura de Joana D’Arc apareceu.
Alegando ter sido designada por Deus para dar fim ao
controle inglês, a camponesa Joana D'Arc mobilizou as tropas e populações
locais. Aproveitando do momento, o rei Carlos VII mobilizou tropas e passou a
engrossar e liderar os exércitos que mais uma vez se digladiaram contra a
Inglaterra. Nesse instante, temendo o fortalecimento de uma liderança popular,
os nobres franceses arquitetam a entrega de Joana D'Arc para os britânicos.
No ano de 1430, Joana D'Arc foi morta na fogueira sob a
acusação de bruxaria. Mesmo com a entrega da heroína, os franceses conseguiram
varrer a presença britânica na porção norte do país. Em 1453, um tratado de paz
que encerrava a Guerra dos Cem Anos foi assinado.
Por um lado, a guerra foi importante para se firmar o ideal
de nação entre os franceses. Por outro, abriu caminho para que novas disputas
alterassem a situação da monarquia inglesa.
Por Rainer Sousa
Mestre em História Arquivos Confidenciais - Joanna D'Arc
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